Bem sei que este
filme já é de 2010, mas a verdade é que ainda não o tinha visto. Mas, ontem à
tarde, enquanto passeava pelos canais, vi que estava a dar na FOX Life, e
decidi que era o dia para vê-lo. Acredito não ter sido fruto do acaso, tê-lo
visto, quando tinha passado tão pouco tempo após ter escrito sobre as redes
sociais. Nesse texto, falei sobre a importância de nos recolhermos e abraçarmos
o silêncio. O filme parece ter sido a sequência lógica...
Na minha viagem de auto-análise, fui desafiado a escrever sobre as relações, pois, ao fazê-lo, poderia vir a ajudar terceiros. Registei... mas ainda não me tinha feito todo o sentido, até ontem, após ver o filme.
O filme mostra várias viagens, mas a maior e mais importante de todas, é feita dentro da própria personagem, Liz, interpretada pela Julia Roberts.
Infelizmente, a maior parte das pessoas, acomoda-se a relações que já não fazem sentido, ou que nunca fizeram. Seja pelo medo da solidão, seja por falta de fé, seja por falta de amor-próprio, ou por pena, ou por não se acharem merecedores de melhor... assim vão protelando relações sem Futuro.
Mas, mais cedo ou mais tarde, todos têm a sua epifania, o seu momento de clarividência e esclarecimento. Nesse momento, dá-se a viagem. O problema das viagens tardias é mesmo o da bagagem acumulada que, inevitavelmente, levamos para a mesma... ainda que o pressuposto desta, seja mesmo o de, iniciá-la, apenas com a roupa que temos no corpo :) A quantidade de bagagem que levarmos, vai determinar a dificuldade, duração e transformação afectos à nossa viagem.
Esta viagem não é fácil, pois vai obrigar-nos a lidar com a pessoa que mais problemas nos causa... nós próprios.
No decurso dessa viagem de auto-descobrimento, de reencontro e fortalecimento, por conta das experiências negativas que já tivemos em relações anteriores, tornamo-nos um pouco mais egoístas e erguemos as nossas defesas, para não voltarmos a cair no mesmo erro. Se outrora nos anulámos, agora não deixamos ninguém entrar, pois não podemos arriscar que nos tirem o brilho que tanto custou a reencontrar e restaurar. E, sem darmos por isso, estamos a espelhar o comportamento que outrora tiveram connosco, precisamente aquilo que tanto condenámos e nos deixou ficar mal. Isto tudo, muitas vezes, sem sequer darmos conta... O Ser Humano é mesmo curioso, não é?
Nesse egoísmo, os verbos passam a ser conjugados por um só sujeito... “Eu”. Então e o “Nós”? Ui, o “Nós”, esquece... isso só se for aqueles fulanos que ligam para oferecer pacotes com Televisão, Internet e Telemóvel.
Sem nos apercebermos, passámos do 8 ao 80. Pensámos que encontrámos o nosso equilíbrio, mas, a não ser que decidamos viver sozinhos, completamente isolados da sociedade, o nosso equilíbrio dependerá sempre de terceiros. E, numa relação, como é lógico, há duas cabeças, dois corações, dois seres distintos que têm de encontrar o seu equilíbrio um no outro. Se estiverem os dois no 8, os dois no 80, ou um no 8 e outro no 80, certamente, a relação terá um fim anunciado. O equilíbrio não é algo estanque, ou estático. O equilíbrio tem de ser flexível e adequado à fase/situação da nossa vida. Então, para começo de conversa, equilibremos as coisas ali pelo 44, mais coisa menos coisa ;) E, no fundo, é mais ou menos isto que o Ketut diz no filme... com mais ou menos dentes, o importante é passar a mensagem :)
A Liz, personagem interpretada pela Julia Roberts, passa por todo este processo de transformação e, no final, aceita que não pode querer controlar tudo e que o seu equilíbrio, caso queira tentar ser feliz com outra pessoa, passa por entregar-se, de corpo e alma, e descobrir o que aquela relação tem para lhe dar, até porque, no seu âmago, ela sente que, com aquela pessoa, vale a pena “correr o risco”. Afinal de contas, se já tinha largado tudo, por menos, não faria sentido não abraçar tudo, por muito mais.
Naquilo que me diz respeito, o que vos posso dizer é que, sim, também eu já perdi o equilíbrio com relações que não deram certo. Também eu já fiz de tudo para fazer brilhar a pessoa que amava, contentando-me em ficar apenas com o reflexo do brilho da mesma. E andei assim, anos, pensando que a ia salvar. Mas, na realidade, nunca ouvi uma voz a pedir ajuda, por isso, a nível de sanidade mental, estava ali a taco-a-taco com um esquizofrénico com poucos amigos. Nós não ajudamos, nem salvamos ninguém que não queira ser salvo. E não, não fomos nós que falhámos. Não, não fomos nós que não estivemos à altura. Acredito que existe amor que já o era antes de o ser, da mesma forma que acredito que houve ilusão da existência de um amor que nunca existiu. Mas não saberíamos o que era o frio, se só conhecêssemos o calor. Não saberíamos valorizar a saúde, se nunca tivéssemos estado doentes... os exemplos multiplicam-se, mas já perceberam a ideia. O nosso caminho não pára... e foram as nossas relações que nos trouxeram até aqui, que nos clarificaram o que é real, o que é imaginação, o que nós pensávamos que queríamos, o que nós queremos realmente, aquilo que admitimos, aquilo que não toleramos... mas é bom que aprendamos com elas, caso contrário, continuaremos a repetir padrões indesejáveis, até que já nem tenhamos forças, nem mentais, para começar a viagem ao nosso interior, nem físicas, para remar, num barco, face ao desconhecido.
Portanto, eu não acredito que exista a pessoa certa, na altura errada. Acredito é que, tal como diz o Richard, no filme: “If you wanna get to the castle … you got to swim the moat.” Ou seja, a transformação pode ser um processo penoso, mas, no final de contas, compensa. Agora, lá está, se não acreditarmos nisto, então nem vale a pena começarmos a viagem, da mesma forma que não começamos uma outra viagem, de carro, sem lhe pôr combustível. O princípio é o mesmo. Um, com assistência em viagem, outro, com assistência na ala da psiquiatria :)
Então o que fazer, quando duas pessoas se encontram e estão em fases distintas da viagem?
Bem, vai depender de muita coisa... mas, provavelmente, uma vai ter de atalhar caminho, para chegarem ao tal equilíbrio. Seja para continuarem a viagem, juntos... ou para que um se afaste, de forma a que deixe o outro encontrar o seu caminho, deixando em aberto, a possibilidade de um reencontro... ou deixando que o tempo mostre que o que parecia ser o destino, era afinal um desatino. Vai sempre depender das pessoas, das viagens e respectivas bagagens. Mas duma coisa estou certo, sempre que a cabeça e o coração estiverem em consonância, as almas ecoarão, em perfeita e altiva ressonância. E acreditem, só assim vale a pena :)
Portanto, a todas as Julias Roberts, Júlios Robertos, anónimos e anónimas que estão à escuta, deixo o apelo: Não tenham medo de fazer a vossa viagem, pois só o auto-descobrimento vos liberta totalmente, para poderem desfrutar de uma vida de amor pleno.
Na minha viagem de auto-análise, fui desafiado a escrever sobre as relações, pois, ao fazê-lo, poderia vir a ajudar terceiros. Registei... mas ainda não me tinha feito todo o sentido, até ontem, após ver o filme.
O filme mostra várias viagens, mas a maior e mais importante de todas, é feita dentro da própria personagem, Liz, interpretada pela Julia Roberts.
Infelizmente, a maior parte das pessoas, acomoda-se a relações que já não fazem sentido, ou que nunca fizeram. Seja pelo medo da solidão, seja por falta de fé, seja por falta de amor-próprio, ou por pena, ou por não se acharem merecedores de melhor... assim vão protelando relações sem Futuro.
Mas, mais cedo ou mais tarde, todos têm a sua epifania, o seu momento de clarividência e esclarecimento. Nesse momento, dá-se a viagem. O problema das viagens tardias é mesmo o da bagagem acumulada que, inevitavelmente, levamos para a mesma... ainda que o pressuposto desta, seja mesmo o de, iniciá-la, apenas com a roupa que temos no corpo :) A quantidade de bagagem que levarmos, vai determinar a dificuldade, duração e transformação afectos à nossa viagem.
Esta viagem não é fácil, pois vai obrigar-nos a lidar com a pessoa que mais problemas nos causa... nós próprios.
No decurso dessa viagem de auto-descobrimento, de reencontro e fortalecimento, por conta das experiências negativas que já tivemos em relações anteriores, tornamo-nos um pouco mais egoístas e erguemos as nossas defesas, para não voltarmos a cair no mesmo erro. Se outrora nos anulámos, agora não deixamos ninguém entrar, pois não podemos arriscar que nos tirem o brilho que tanto custou a reencontrar e restaurar. E, sem darmos por isso, estamos a espelhar o comportamento que outrora tiveram connosco, precisamente aquilo que tanto condenámos e nos deixou ficar mal. Isto tudo, muitas vezes, sem sequer darmos conta... O Ser Humano é mesmo curioso, não é?
Nesse egoísmo, os verbos passam a ser conjugados por um só sujeito... “Eu”. Então e o “Nós”? Ui, o “Nós”, esquece... isso só se for aqueles fulanos que ligam para oferecer pacotes com Televisão, Internet e Telemóvel.
Sem nos apercebermos, passámos do 8 ao 80. Pensámos que encontrámos o nosso equilíbrio, mas, a não ser que decidamos viver sozinhos, completamente isolados da sociedade, o nosso equilíbrio dependerá sempre de terceiros. E, numa relação, como é lógico, há duas cabeças, dois corações, dois seres distintos que têm de encontrar o seu equilíbrio um no outro. Se estiverem os dois no 8, os dois no 80, ou um no 8 e outro no 80, certamente, a relação terá um fim anunciado. O equilíbrio não é algo estanque, ou estático. O equilíbrio tem de ser flexível e adequado à fase/situação da nossa vida. Então, para começo de conversa, equilibremos as coisas ali pelo 44, mais coisa menos coisa ;) E, no fundo, é mais ou menos isto que o Ketut diz no filme... com mais ou menos dentes, o importante é passar a mensagem :)
A Liz, personagem interpretada pela Julia Roberts, passa por todo este processo de transformação e, no final, aceita que não pode querer controlar tudo e que o seu equilíbrio, caso queira tentar ser feliz com outra pessoa, passa por entregar-se, de corpo e alma, e descobrir o que aquela relação tem para lhe dar, até porque, no seu âmago, ela sente que, com aquela pessoa, vale a pena “correr o risco”. Afinal de contas, se já tinha largado tudo, por menos, não faria sentido não abraçar tudo, por muito mais.
Naquilo que me diz respeito, o que vos posso dizer é que, sim, também eu já perdi o equilíbrio com relações que não deram certo. Também eu já fiz de tudo para fazer brilhar a pessoa que amava, contentando-me em ficar apenas com o reflexo do brilho da mesma. E andei assim, anos, pensando que a ia salvar. Mas, na realidade, nunca ouvi uma voz a pedir ajuda, por isso, a nível de sanidade mental, estava ali a taco-a-taco com um esquizofrénico com poucos amigos. Nós não ajudamos, nem salvamos ninguém que não queira ser salvo. E não, não fomos nós que falhámos. Não, não fomos nós que não estivemos à altura. Acredito que existe amor que já o era antes de o ser, da mesma forma que acredito que houve ilusão da existência de um amor que nunca existiu. Mas não saberíamos o que era o frio, se só conhecêssemos o calor. Não saberíamos valorizar a saúde, se nunca tivéssemos estado doentes... os exemplos multiplicam-se, mas já perceberam a ideia. O nosso caminho não pára... e foram as nossas relações que nos trouxeram até aqui, que nos clarificaram o que é real, o que é imaginação, o que nós pensávamos que queríamos, o que nós queremos realmente, aquilo que admitimos, aquilo que não toleramos... mas é bom que aprendamos com elas, caso contrário, continuaremos a repetir padrões indesejáveis, até que já nem tenhamos forças, nem mentais, para começar a viagem ao nosso interior, nem físicas, para remar, num barco, face ao desconhecido.
Portanto, eu não acredito que exista a pessoa certa, na altura errada. Acredito é que, tal como diz o Richard, no filme: “If you wanna get to the castle … you got to swim the moat.” Ou seja, a transformação pode ser um processo penoso, mas, no final de contas, compensa. Agora, lá está, se não acreditarmos nisto, então nem vale a pena começarmos a viagem, da mesma forma que não começamos uma outra viagem, de carro, sem lhe pôr combustível. O princípio é o mesmo. Um, com assistência em viagem, outro, com assistência na ala da psiquiatria :)
Então o que fazer, quando duas pessoas se encontram e estão em fases distintas da viagem?
Bem, vai depender de muita coisa... mas, provavelmente, uma vai ter de atalhar caminho, para chegarem ao tal equilíbrio. Seja para continuarem a viagem, juntos... ou para que um se afaste, de forma a que deixe o outro encontrar o seu caminho, deixando em aberto, a possibilidade de um reencontro... ou deixando que o tempo mostre que o que parecia ser o destino, era afinal um desatino. Vai sempre depender das pessoas, das viagens e respectivas bagagens. Mas duma coisa estou certo, sempre que a cabeça e o coração estiverem em consonância, as almas ecoarão, em perfeita e altiva ressonância. E acreditem, só assim vale a pena :)
Portanto, a todas as Julias Roberts, Júlios Robertos, anónimos e anónimas que estão à escuta, deixo o apelo: Não tenham medo de fazer a vossa viagem, pois só o auto-descobrimento vos liberta totalmente, para poderem desfrutar de uma vida de amor pleno.