quinta-feira, 20 de setembro de 2012

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sincro para a meia-noite


Continuação da resposta a um amigo meu sobre a manifestação, crise, etc...


Adalberto, a ver se nos entendemos :)

Ninguém está aqui para baixar o nível, penso que todos os que comentaram, mal ou bem, quererão o mesmo que eu e tu, um Portugal melhor.

Já vou desenvolver mais para a frente, aquilo que aqui introduzo, mas penso que o problema dos teus textos iniciais, bem como esta resposta mais longa, é precisamente o facto de não explicares bem o que queres afinal debater.

Cerca de 1 milhão de portugueses saíram à rua, em protesto contra as políticas instauradas que afundaram o nosso país. Não se verificava tal movimento de massas, desde 1 de Maio de 1974.

1. Tu vens aqui escrever que a maior parte das pessoas não entende o que é a crise e os esforços necessários para sair dela, dando a entender que, assim sendo, a manifestação até nem fazia muito sentido.

2. Depois acrescentas ainda que muitas dessas pessoas que se estão a manifestar têm culpas no cartório, pois contribuíram para a crise que atravessa Portugal.
Para sustentares a tua opinião, falas no endividamento das famílias que, com recurso a créditos, viveram acima das suas possibilidades.

3. Depois dizes que os políticos estão a tomar as medidas que têm de tomar e que a opinião de especialistas que demonstram, com dados concretos, que algumas dessas medidas não fazem sentido, vale o que vale.

4. Depois dizes que este governo está a atravessar a maior crise financeira de sempre e que, ainda por cima, veio a descobrir que o estado do país estava pior do que aquilo que lhes haviam “vendido”.

5. Disseste que a maior parte dos jovens se queixa, mas que tem de entender que tem de pagar pelo tempo das vacas gordas.

6. Referiste que não confundes quem passa fome, com quem se queixa do tabaco estar mais caro.

7. Disseste que aqueles que, tal como eu, se queixam da falta de liberdade, deveriam viajar mais para se aperceberem que há realidades bem piores que a nossa, no que a esse capítulo diz respeito.

8. Disseste que o Passos Coelho até vai apoiar legislação que responsabilize criminalmente membros do governo cuja conduta seja posta em causa e que isso até abona muito em favor dele.

9. Disseste que não conseguiste ter acesso a grandes informações sobre a manifestação, ou sobre o que a tinha realmente motivado.

10. Depois voltas a falar nas pessoas que ganham 400 Euros por mês e gastam 500, sendo que a maior parte desses 500 Euros são gastos em luxos, tais como tabaco. Tabaco esse que, por sua vez, vai dar-lhes cabo da saúde… saúde essa que vai sair do teu bolso, pois o desgraçadinho, endividado por conta dos seus luxos, não tem como pagá-la.

11. Depois passaste do Serviço Nacional de Saúde para a economia paralela, explicando que, à conta dessa economia paralela, há muito dinheiro que não é arrecadado pelos cofres do estado e, consequentemente, terás também tu de pagá-lo.

12. Depois falaste em medidas erradas tomadas pelo anterior governo, dizendo que então, se queremos realmente culpar alguém, que comecemos pelo Sócrates.

13. Depois referiste que a instabilidade política (mudanças constantes de governo) não leva a lado nenhum.

14. Referiste que a manifestação trouxe violência e, com isso, perdeu a razão.

Acho que não me esqueci de nada…

Vou então comentar, cada um dos pontos, sendo que alguns deles já foram abordados anteriormente.

1 – Um povo ignorante dá jeito a muito governante, porém, quando começam a retirar a dignidade às pessoas, até as pessoas mais iletradas e com menos recursos se vêem forçadas a inteirar-se do real estado da nação e das medidas necessárias para inverter o rumo dos acontecimentos. E Adalberto, como eu estive na manifestação, posso dizer-te, com toda a certeza, que a maior parte das pessoas lá presentes não pertencia a essa categoria.

2 – As famílias endividaram-se com créditos até mais não, não para sobreviver, mas sim para viver acima das suas possibilidades. Com isto, contribuíram para a crise. Isto não faz qualquer sentido, eles não estão a tirar dinheiro ao Estado. Essas famílias contribuíram para a sua própria crise, nada mais. E, apesar de não concordar com a falta de planeamento, ou viver acima das possibilidades, havia muito a dizer sobre este ponto, nomeadamente, no que diz respeito ao aproveitamento, por parte de bancos e instituições financeiras, do desconhecimento e da falta de instrução por parte das ditas famílias, ou particulares, assediando-os com crédito, pois as suas margens davam-lhes segurança para correr o risco. Agora que as margens diminuíram, já não há crédito para ninguém, ou a haver, o risco que eles correm é praticamente nulo. E também é discutível o que é o viver acima das possibilidades, pois este é um conceito facilmente confundido. É natural que as pessoas adeqúem a sua vida à realidade que atravessam, sendo que, sem terem dados concretos – pois nem todos somos experts em economia, nem tão pouco temos acesso a determinada informação privilegiada que, em tempo útil, nos permita reajustar as nossas contas, em caso de uma quebra no mercado financeiro, por exemplo. Claro está que não defendo que a atitude das pessoas seja “chapa ganha, chapa gasta”, mas cada vez é mais complicado poupar e, se não formos vivendo os nossos momentos que, inevitavelmente, têm o seu custo, então não andamos cá a fazer nada, estamos apenas a sobreviver, com medo do presente, com medo do futuro, sem perspectivas, sem saber se a nossa poupança está segura no banco, sem saber qual a próxima medida que vão apresentar para piorar a nossa condição humana. É que uma coisa é ter de abdicar do marisco para o bitoque, outra bem distinta é ter de abdicar do bitoque para a sopa de cavalo cansado. Tem que ver com aquilo que considero ser o limiar da condição humana. Eu não como marisco, mas não condeno o gajo que tem, ou teve dinheiro para o comer. Condená-lo-ia, se ele visse uma pessoa a pedir na rua, queixando-se que não tinha dinheiro para uma carcaça e retorquisse: Compreendo-te perfeitamente, meu amigo, isto está tão mal que mal tenho dinheiro para o meu marisco.

3 – Já todos nós entendemos os esforços que são necessários, Adalberto, no entanto, tal como falei no ponto 2, existe aquilo que é o limiar da condição/dignidade humana. Numa sociedade que se quer justa, não podes querer cumprir os teus objectivos a qualquer custo, principalmente, quando é só para uns. E ainda acredito nos especialistas e dados concretos, 2 + 2 continuam a ser 4.

4 – Acho que nunca ouvi nenhum governo dizer: Eh pá, os gajos que estiveram aqui antes são espectaculares, estávamos a contar que isto estivesse mau, mas não, está impecável! E não, não estou a desculpar o governo do PS, mas se tu tiveres o cuidado de rever aquilo que eu escrevi, vês que eu digo que a culpa não é só deste governo, que são anos e anos de má governação.

5 – Remeto-te para os pontos 2 e 3. A juntar a isso, digo-te: Eu não contribuí para a dívida, nem directa nem indirectamente, logo, não tenho de pagar porra nenhuma. A juntar a isso, sempre paguei aquilo que tive de pagar, concordando, ou não. Chega! Que sejam responsabilizados TODOS os que colocaram o país nesta situação e que paguem eles!

6 – Eu parto do pressuposto que as pessoas que se estão a queixar, não estão preocupadas com o aumento do preço do tabaco, Adalberto, parto do pressuposto que são pessoas com reais razões de queixa. Hipócritas não me dizem nada, nem tão pouco estou preocupado com eles, ou com outros interesseiros.

7 – Por haver países que funcionem pior que o nosso, não quer dizer que eu ache maravilhoso o funcionamento do nosso. Graças a Deus, tal como há piores, outros há que, a nível de justiça social, são bem melhores. E nesse aspecto, Adalberto, rumo à evolução, devemos nivelar-nos por cima, tentando igualar aqueles que estão mais perto da razão, não ficar contentes por estarmos melhores que em África.

8 – Adalberto, o Zé dos Anzóis já te pôs aí o Best Of do Passos Coelho, achas que esse gajo me transmite alguma credibilidade?

9 – No entanto, decidiste fazer um desabafo acerca da mesma, ou como reacção à mesma (como entenderes melhor), pois não só foi escrito horas após esta ter tido lugar, como nele abordaste temas que a motivaram.

10 – Eh pá, apesar de considerar umas inferências um tanto ou quanto puxadas (passar do endividar-se para comprar tabaco para eu estar a pagar a saúde dele), já referi anteriormente que os parasitas sociais a mim não me dizem nada, não têm expressão ou credibilidade nesta luta. Mas novamente te digo, não foi este tipo de pessoas que vi na manifestação, Adalberto.

11 – A economia paralela é, sem dúvida alguma, um grande problema que tem de ser resolvido, mas até aí o Governo tem muita culpa, Adalberto. Se a fiscalização e o controlo apertarem, a economia paralela diminui drasticamente, agora, se ninguém fizer nada, esta continua a existir. Acredito que num estado em que exista e se sinta justiça social, em que o sistema funciona, a vontade de contribuir para uma economia paralela diminua drasticamente. É lógico que não estou a desculpar quem o faz, pois duas mentiras não fazem uma verdade, mas é conveniente que se analisem as razões para o sucedido, pois para além do chico-espertismo de alguns, há mecanismos mal implementados que a fomentam. Mas novamente, Adalberto, não foi a voz de pessoas com esses ideais que saiu à rua no dia 15.

12 – Remeto para o ponto 4.

13 – Adalberto, tu casas-te com uma mulher, essa mulher encorna-te. Faz-te promessas de que vai mudar e volta a encornar-te… Tu inteiras-te junto de amigos, e conheces outras histórias semelhantes. Então decides ficar com ela na mesma, pois não vai adiantar mudar, pois são todas iguais… Eu cá acredito que há sempre uma alternativa melhor, e que o povo português vai apresentá-la, tal como fizeram os Islandeses. Muitas pessoas preocupam-se em defender ideais políticos, quando, na minha opinião, isso são apenas rótulos… é hoje vulgar encontrar marmelada no frasco de mel. Eu defendo competência, defendo medidas concretas, defendo bom senso, defendo justiça social, defendo a dignidade do povo… a laranja é amarga, a rosa tem espinhos, o bloco não passa dos rascunhos, a foice já tem a lâmina gasta e o centro democrático social nunca foi encontrado, qual submarino perdido.

14 – Tal como te disse o Zé dos Anzóis, no cômputo geral, acho que a manifestação foi mesmo muito pacífica. Em relação a Espanha e à Grécia, acho que não se pode comparar, Adalberto, porque não sabemos o que algumas dessas pessoas estão a passar… deixo-te a seguinte questão no ar: Se não tivesses dinheiro para alimentar a tua família, matavas a tua família primeiro e depois suicidavas-te, ou será que, antes disso, ias roubar para tentar alimentá-las? A bússola moral das pessoas encontra o seu norte na dignidade.

domingo, 16 de setembro de 2012

E não te esqueças disso...


Em resposta a um amigo meu, por conta da manifestação de ontem...


Nota: Os nomes dos meus amigos foram propositadamente alterados.

Nota 2: Com o consentimento dele, poderei depois deixar aqui um link para ficarem a conhecer a opinião dele, mas mais importante que isso, quanto a mim, é mesmo passar a mensagem em tempo útil.

Adalberto, isto é muito, mais muito mais complexo do que estás a querer fazer parecer. Estás a pôr, no mesmo saco, futilidades e passar dificuldades para comer. São duas realidades MUITO DIFERENTES, separadas por um fosso enorme. Mas já lá voltaremos…

Começa por pensar que os nossos pais tiveram de lutar para que nós gozássemos da liberdade que gozamos hoje... liberdade essa que está, cada vez mais, a perder a sua força e significado e, qualquer dia, se nada tivesse sido feito, só teria força e significado no dicionário.

O Zé dos Anzóis já te disse umas quantas coisas, são erros atrás de erros, aos mais variados níveis. E Adalberto, isto é admitido por TODA a gente, especialistas, não especialistas, antigos políticos, crianças da 4ª classe, etc…

Ele são mentiras atrás de mentiras e, pior do que tudo, põem, dispõem e impõem, como se não tivessem de dar cavaco a ninguém, tal como um tal de Aníbal, que só aparece quando está mesmo entre a espada e a parede. Os governantes têm de entender, de uma vez por todas, que a soberania é do povo, e só do povo. Agora diz-me lá, conheces muitos negócios em que possas esbanjar o que quiseres, com o dinheiro de outros, sem que sejas responsabilizado pela situação de insolvência/falência que criaste por conta de erros crassos de gestão? Mas o cúmulo é quando, em cima disso tudo, ainda vais pedir àqueles que te deram o dinheiro e confiaram em ti, para pagarem a dívida que tu criaste. Mas ainda te pergunto mais uma coisa, Adalberto: Que outros empregos conheces, onde tu és contratado sem ter de mostrar competência (não confundir com equivalência) para as funções que vais desempenhar?

Hoje, vi Portugal mais unido do que nunca, a lutar pelo futuro do mesmo. Não se via uma manifestação como esta desde 1974, isto não foi bem a manifestação da geração à rasca, Adalberto, isto foi algo muito mais sério. Se assim não fosse, não terias unido, em prol dum objectivo comum, diferentes estratos sociais, raças, credos, cores partidárias, faixas etárias... As incoerências que referes existem, sim, mas o peso das mesmas é irrelevante perante a dimensão do problema que actualmente atravessamos, eu diria até que é quase insultuosa a comparação. Não podes estabelecer, dessa forma, o paralelismo que estabeleceste. Eu posso endividar-me para comprar um carro de luxo, um iPhone 7 1/2 e um palacete na Quinta da Marinha, no entanto, estou a fazê-lo com o MEU dinheiro, não com o dinheiro que reúno mensalmente através dum fundo criado para o efeito. Fundo esse sobre o qual não só não dou garantia de possibilidade de resgate, como também não mostro sequer os reais benefícios por terem optado pelo mesmo.

Vou tentar dar um exemplo muito simples… um gajo chega-se ao pé de ti e diz-te assim: Tens de me dar, a partir de hoje, 15 euros por mês. Tu perguntas-lhe para que quer ele o dinheiro e ele dá-te uma explicação. Tu acreditas e dás-lhe o dinheiro. No entanto, passados alguns meses, falas com outros amigos teus que até são especializados nessa área, e eles explicam-te, por a + b, que isso não faz qualquer sentido. Tu vais então confrontá-lo e, quando finalmente consegues chegar a diálogo com ele, ele dá-te novamente a volta, dizendo-te que houve uma série de imprevistos sobre os quais ele não tinha qualquer tipo de controlo e que, à conta disso, ia ter de pedir-te mais 10 Euros por mês, para conseguir contrariar isso. Na tua boa-fé, começaste então a contribuir com 25 Euros, ao invés dos 15 Euros iniciais, por conta da conjuntura. Com medo da resposta dos teus amigos entendidos, evitaste contar-lhes o sucedido e preferiste continuar a contribuir todos os meses, até que começaste a ouvir mais gente a falar nesse conto do vigário e decidiste, por ti próprio, investigar a situação… começaste a fazer umas contas e a analisar a realidade dos factos e viste que aquilo, de facto, não podia estar certo. Sentiste-te então indignado, enganado… afinal de contas, tinhas andado a dar 25 Euros por mês para um fundo perdido, por conta de uma tal dívida de jogo contraída pelo Rui de Avintes, numa luta de cães.

Se tivesses estado hoje na manifestação, acho que percebias a dimensão daquilo que estamos a falar.

Ninguém está a pôr a culpa APENAS neste governo, e sim, o país não chegou a esta situação em 2 anos, já são muitos os anos de erros ao nível da gestão dos dinheiros e decisões tomadas no nosso país. Mas mais importante que isso, já são muitos os anos de sentimento de impunidade de quem escolhemos para governar o nosso país. Em 1974 perceberam que não brincavam com o povo, hoje fizemo-los perceber novamente. Hoje, a uma só voz, demos um murro na mesa e dissemos basta. Uma das coisas que mais me revolta é precisamente a dissimulação, aqueles que apregoam um determinado valor, mas sempre que podem, optam por outro. Se uma ditadura cai, mais facilmente cai uma ditadura disfarçada de democracia. O povo mostrou que está atento e que não permite mais que lhe imponham o que quer que seja e, por tal facto, estou bastante orgulhoso. Ainda temos um longo e tortuoso caminho pela frente, mas o primeiro passo está dado. Ficou ainda bem latente que hoje assistimos a uma manifestação pacífica, mas que, tal como acontece com a dinamite inofensiva, basta acender um rastilho para as coisas mudarem de figura.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Tomás Taveira é o novo presidente da QUERCUS

“QUERCUS tem tudo a ver comigo, estou ansioso por abraçar este projecto. Em relação à alteração no logotipo, digamos que é apenas a minha visão de arquitecto do mesmo.”