Ora bem, como alguns de vós já devem ter reparado, não sou de comentar aquilo que já muitos comentaram, precisamente por não gostar de ser apenas mais um a fazê-lo. No entanto, como sei que alguns de vós gostam de contar com a minha opinião sobre um ou outro tema, decidi escrever este texto, que visa criticar uma transição que, na minha opinião, foi bastante infeliz. Procuro ainda demonstrar por “a + b” que quando se está no caminho certo e se volta, conscientemente, ao errado, pode ser bastante mais difícil voltar a encontrar o Norte.
Estreou, no passado Domingo, o novo programa que a SIC escolheu para entreter o público na noite de Domingo, programa esse que veio substituir o “Vale Tudo”. O programa chama-se “Splash” e consiste em ver famosos a fazerem saltos para dentro de uma piscina, com, ou sem acrobacia, isso fica ao critério de cada um dos “artistas”.
Nunca fui pessoa de indagar a vida dos famosos, nem tão pouco de vibrar com os seus feitos, ou enfeites. Posso admirar o seu profissionalismo, carácter, ou determinado acto altruísta que tenham. Posso ainda avaliar a qualidade que têm enquanto entertainers.
Jamais compreenderei o interesse em programas como o Big Brother, por exemplo. E, ao que parece, o programa Splash foi criado para tentar combater o Big Brother VIP. Ora, eu até consigo perceber a questão da guerra das audiências, agora, o que não entendo é o tentar vencer a todo o custo, mesmo que isso implique pormos no ar um programa de qualidade bastante inferior ao que viemos substituir. Isto foi exactamente o que aconteceu.
É certo que nem todos gostarão do formato do programa “Vale Tudo”, mas em termos qualitativos, está a anos-luz de um Splash ou de um Big Brother. Será então correcto que, por uns pontos percentuais de share, proponhamos ao nosso público um produto bastante inferior?
Será que é o público-alvo do Big Brother que a SIC deve procurar resgatar? Na minha óptica, não, mas certamente terão sido feitos inúmeros estudos (por gajos inteligentes e bem pagos) nesse sentido. Neste capítulo em particular, o “se não consegues vencê-los, junta-te a eles” não me entra na cabeça. Cativem o público pela qualidade, já viram que é possível fazê-lo com o “Vale Tudo”. Não é por um canal ser privado que deve esquecer o verdadeiro interesse público (enquadrem isto em programas de entretenimento). Cabe a cada um de nós educar o próximo que, pelas razões mais variadas, ainda só foi brindado pela mediocridade.
Fiz questão de ver o programa - ainda que na diagonal - para poder opinar com um mínimo de conhecimento de causa. Quem me conhece, sabe que sou um defensor acérrimo de exemplos de vida e superação, porém, quando estes são utilizados com segundas intenções, coloco muitas reticências face aos mesmos. Dito isto e fazendo uma análise imparcial e objectiva ao programa, diria que aquilo mais parecia a revista Maria a fazer uma prova de resistência na piscina do Jamor. Tínhamos, no mesmo tacho, reunidos todos os ingredientes de uma típica novela mexicana: Gajas boas; Gajos bons; Cantores pimba; Drama; Superação; Suspense, e uma personagem que nunca ninguém vai entender bem o que é, nem o que faz ali.
Parece-me ainda que o programa visa ajudar os tais famosos que não andarão a ter projecção suficiente.
Depois e, infelizmente para ele, temos um Rui Unas totalmente deslocado, mas eu entendo o papel dele, pois como se costuma dizer: Aquilo que não temos de fazer para garantir o pão na mesa ao final do dia.
No entanto, reitero que não é fácil ver o Unas a fazer parelha com a Júlia Pinheiro, não é mesmo.
Acho muito bem que queiram destacar a recuperação de Sónia Brazão, e a força de viver do Jorge Pina, mas… fazê-lo num programa com mergulhos para a piscina? Se querem dar credibilidade à coisa, dediquem-lhes uma entrevista em condições e passem-no em horário que as pessoas possam ver. E já agora, procurem ainda outros tantos exemplos de superação que haverá por esse Portugal fora, que só não “aparecem” por não serem famosos. Como diz o chato: “Queres é aparecer”… e isso diz tanto.
Mas enfim, se o vosso intuito é ficarem mais parecidos à TVI, acho que sim, acho que estão no bom caminho. Continuem a apostar neste tipo de programas e a dar tempo de antena a Castelo Branco, ao invés de o darem a Castel-Branco.
Resta-me terminar, dizendo que eu era um fã de “Vale Tudo”, e que fazia os possíveis para não perder um programa, quer pelo formato do mesmo, quer pela cumplicidade existente entre convidados e apresentador. Mas uma coisa vos garanto, enquanto houver Splash, a SIC não contará comigo como espectador nas noites de Domingo. E se o mesmo acontecer com outros tantos milhares, pode ser que a piscina comece a ficar sem água e o mergulho seja cada vez mais descabido.
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