domingo, 16 de setembro de 2012

Em resposta a um amigo meu, por conta da manifestação de ontem...


Nota: Os nomes dos meus amigos foram propositadamente alterados.

Nota 2: Com o consentimento dele, poderei depois deixar aqui um link para ficarem a conhecer a opinião dele, mas mais importante que isso, quanto a mim, é mesmo passar a mensagem em tempo útil.

Adalberto, isto é muito, mais muito mais complexo do que estás a querer fazer parecer. Estás a pôr, no mesmo saco, futilidades e passar dificuldades para comer. São duas realidades MUITO DIFERENTES, separadas por um fosso enorme. Mas já lá voltaremos…

Começa por pensar que os nossos pais tiveram de lutar para que nós gozássemos da liberdade que gozamos hoje... liberdade essa que está, cada vez mais, a perder a sua força e significado e, qualquer dia, se nada tivesse sido feito, só teria força e significado no dicionário.

O Zé dos Anzóis já te disse umas quantas coisas, são erros atrás de erros, aos mais variados níveis. E Adalberto, isto é admitido por TODA a gente, especialistas, não especialistas, antigos políticos, crianças da 4ª classe, etc…

Ele são mentiras atrás de mentiras e, pior do que tudo, põem, dispõem e impõem, como se não tivessem de dar cavaco a ninguém, tal como um tal de Aníbal, que só aparece quando está mesmo entre a espada e a parede. Os governantes têm de entender, de uma vez por todas, que a soberania é do povo, e só do povo. Agora diz-me lá, conheces muitos negócios em que possas esbanjar o que quiseres, com o dinheiro de outros, sem que sejas responsabilizado pela situação de insolvência/falência que criaste por conta de erros crassos de gestão? Mas o cúmulo é quando, em cima disso tudo, ainda vais pedir àqueles que te deram o dinheiro e confiaram em ti, para pagarem a dívida que tu criaste. Mas ainda te pergunto mais uma coisa, Adalberto: Que outros empregos conheces, onde tu és contratado sem ter de mostrar competência (não confundir com equivalência) para as funções que vais desempenhar?

Hoje, vi Portugal mais unido do que nunca, a lutar pelo futuro do mesmo. Não se via uma manifestação como esta desde 1974, isto não foi bem a manifestação da geração à rasca, Adalberto, isto foi algo muito mais sério. Se assim não fosse, não terias unido, em prol dum objectivo comum, diferentes estratos sociais, raças, credos, cores partidárias, faixas etárias... As incoerências que referes existem, sim, mas o peso das mesmas é irrelevante perante a dimensão do problema que actualmente atravessamos, eu diria até que é quase insultuosa a comparação. Não podes estabelecer, dessa forma, o paralelismo que estabeleceste. Eu posso endividar-me para comprar um carro de luxo, um iPhone 7 1/2 e um palacete na Quinta da Marinha, no entanto, estou a fazê-lo com o MEU dinheiro, não com o dinheiro que reúno mensalmente através dum fundo criado para o efeito. Fundo esse sobre o qual não só não dou garantia de possibilidade de resgate, como também não mostro sequer os reais benefícios por terem optado pelo mesmo.

Vou tentar dar um exemplo muito simples… um gajo chega-se ao pé de ti e diz-te assim: Tens de me dar, a partir de hoje, 15 euros por mês. Tu perguntas-lhe para que quer ele o dinheiro e ele dá-te uma explicação. Tu acreditas e dás-lhe o dinheiro. No entanto, passados alguns meses, falas com outros amigos teus que até são especializados nessa área, e eles explicam-te, por a + b, que isso não faz qualquer sentido. Tu vais então confrontá-lo e, quando finalmente consegues chegar a diálogo com ele, ele dá-te novamente a volta, dizendo-te que houve uma série de imprevistos sobre os quais ele não tinha qualquer tipo de controlo e que, à conta disso, ia ter de pedir-te mais 10 Euros por mês, para conseguir contrariar isso. Na tua boa-fé, começaste então a contribuir com 25 Euros, ao invés dos 15 Euros iniciais, por conta da conjuntura. Com medo da resposta dos teus amigos entendidos, evitaste contar-lhes o sucedido e preferiste continuar a contribuir todos os meses, até que começaste a ouvir mais gente a falar nesse conto do vigário e decidiste, por ti próprio, investigar a situação… começaste a fazer umas contas e a analisar a realidade dos factos e viste que aquilo, de facto, não podia estar certo. Sentiste-te então indignado, enganado… afinal de contas, tinhas andado a dar 25 Euros por mês para um fundo perdido, por conta de uma tal dívida de jogo contraída pelo Rui de Avintes, numa luta de cães.

Se tivesses estado hoje na manifestação, acho que percebias a dimensão daquilo que estamos a falar.

Ninguém está a pôr a culpa APENAS neste governo, e sim, o país não chegou a esta situação em 2 anos, já são muitos os anos de erros ao nível da gestão dos dinheiros e decisões tomadas no nosso país. Mas mais importante que isso, já são muitos os anos de sentimento de impunidade de quem escolhemos para governar o nosso país. Em 1974 perceberam que não brincavam com o povo, hoje fizemo-los perceber novamente. Hoje, a uma só voz, demos um murro na mesa e dissemos basta. Uma das coisas que mais me revolta é precisamente a dissimulação, aqueles que apregoam um determinado valor, mas sempre que podem, optam por outro. Se uma ditadura cai, mais facilmente cai uma ditadura disfarçada de democracia. O povo mostrou que está atento e que não permite mais que lhe imponham o que quer que seja e, por tal facto, estou bastante orgulhoso. Ainda temos um longo e tortuoso caminho pela frente, mas o primeiro passo está dado. Ficou ainda bem latente que hoje assistimos a uma manifestação pacífica, mas que, tal como acontece com a dinamite inofensiva, basta acender um rastilho para as coisas mudarem de figura.

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